O Manuscrito Shem Tob
A versão hebraica de Matitiyahu foi transcrita por Shem Tob Ben Yitschak Ben Shaprut em sua obra apologétic Even Bohan, cerca de 1380 DC. Shem Tob teria usado um manuscrito antigo de Matitiyahu que descenderia do original. A obra de Shem Tob sobrevive através de manuscritos que datam de cerca dos séculos 15 e 16, Acerca do manuscrito Shem Tob, George Howard escreve:
"...um substrato antigo do hebraico em Shem Tob é uma composição anterior, e não uma tradução. O substrato antigo, contudo, foi exposto a uma série de revisões de modo que o presente texto de Shem Tob representa o original apenas em forma impura." (The Gospel of Matthew according to a Primitive Hebrew Text; 1987; p.223)
"Pode parecer pelo pano-de-fundo lingüístico e sociológico do Cristianismo primitivo e pela natureza de algumas tendências teológicas no Mateus de Shem Tob que o texto hebraico serviu de modelo para o grego. O presente autor está, de fato, inclinado a esta posição." (ibid p.225)
"O Mateus de Shem Tob... não preserva o original em forma pura. Ele reflete a contaminação de escribas judeus durante a idade média. Contudo, partes consideráveis do original parecem ter permanecido..." (Hebrew Gospel of Matthew; 1995; p.178)
A versão Shem Tob de Matitiyahu difere daquelas de Munster e DuTillet, as quais na maioria das vezes concordam entre elas. Qual seria então a utilidade de um texto como Shem Tob para o nosso projeto? Por conter parte da essência original, Shem Tob é utilizado não como texto primário para a tradução, porém como um testemunho adicional e critério de desempate em caso de discordância entre as demais fontes. Além disso, há um fator cultural importante em Shem Tob: por ser interpretativo em certas passagens, pode nos fornecer dados valiosos acerca de como uma passagem ou expressão era compreendida dentro da mentalidade judaica.
O Manuscrito DuTillet
A versão hebraica DuTillet de Matitiyahu vem do manuscrito que foi confiscado dos judeus por parte da Igreja Católica, em Roma, no ano de 1553. Em 12 de Agosto de 1553, o papa Julius III assinou um decreto banindo o Talmud de Roma. Tal decreto foi executado justamente num Rosh HaShaná, em 9 de Setembro, e qualquer coisa que se parecesse com o Talmud ou fosse escrita em caracteres hebraicos foi confiscada dos lares e sinagogas judaicas. Na ocasião, o bispo francês Jean DuTillet estava visitando Roma. Ele ficou espantado ao ver um manuscrtio de Matitiyahu em meio aos demais manuscritos hebraicos. Possivelmente, tal manuscrito pertencera a uma família de judeus nazarenos que haviam ainda permanecido apesar das perseguições. DuTillet obteve o manuscrito e retornou à França, doando-o para a Bibliotheque Nationale de Paris, onde permanece até hoje como ms. hebraico 132.
Apesar de ignorado pela grande maioria da cristandade, muitos teólogos que avaliaram o manuscrito chegaram à conclusão de que o texto é anterior ao grego. Schonlfield, por exemplo, escreve:
"... certas provas lingüísticas... parecem apontar que o texto hebraico [DuTillet] é anterior ao grego, e que certas renderizações do grego podem ser devido a leituras equivocadas do original hebraico." (An Old Hebrew Text of St. Matthew's Gospel; 1927, p.17)
Os Manuscritos Munster
O manuscrito Munster foi publicado por Sebastian Munster, um professor suíço de hebraico e aramaico, em 1537 (e republicado em 1557). A história de sua publicação é curiosa. Em seus livros acerca do hebraico, Munster freqüentemente dava exemplos vindos de um manuscrito hebraico de Matitiyahu que ele havia recebido de judeus nazarenos. Após diversas solicitações de seus alunos, Sebastian Munster então publicou o seu manuscrito.
Em sua carta ao rei Henrique VIII, Munster afirma que o manuscrito que havia recebido não estava em estado perfeito de conservação, e possuía diversas lacunas no texto. Tais lacunas foram preenchidas pelo próprio Munster.
Contudo, em 1551, Johannes Quin-Quarboreus de Aurila, professor de hebraico e aramaico na College de France, e colega de Sebastian Munster, publicou uma versão do manuscrito Munster na qual indicava e comentava o preenchimento das lacunas feito por Munster. De possa das anotações de Munster, e também tendo como fonte outros manuscritos hebraicos ao qual teve acesso, Quin-Quarboreus fez revisões ao manuscrito, corrigindo alguns dos preenchimentos feitos por Munster. Quin-Quarboreus afirma, no prefácio de sua edição do manuscrito, que o manuscrito de Munster e os demais manuscritos ao qual ele próprio teve acesso estavam em concordância com o manuscrito original em hebraico de Matitiyahu.
O Manuscrito de Hebreus
Na edição de 1557 do manuscrito Munster, também foi incluída uma versão hebraica do Sefer Ivrim (livro de Hebreus) que Sebastian Munster também obtera de judeus nazarenos. Ao contrário do manuscrito de Matitiyahu, o Sefer Ivrim obtido por Munster não possuía lacunas, e também apontava para um texto anterior ao grego.
O Siríaco Antigo
Um fato relativamente desconhecido para o Cristianismo é a existência de dois manuscritos antigos em aramaico dos 4 livros das Boas Novas, datando do século 4. O primeiro foi descoberto pelo Dr. William Cureton em 1842, num monastério no Vale dos Lagos de Naton, no Egito. Este manuscrito é conhecido como Codex Syrus Curetonianus, ou o Cureton, e se encontra no British Museum sob o número de 14451. O segundo foi descoberto pela Sra. Agnes Smith Lewis, em 1892, no monastério de Santa Catarina, próximo ao monte Sinai, no Egito. O manuscrito é conhecido como Codex Syrus Sinaiticus, ou Siríaco Sinaitico, catalogado como Ms. Siríaco Sinaitico No. 30. Segundo Cureton, tais manuscritos seriam baseados no texto original dos apóstolos.
O Siríaco Antigo assemelha-se muito à Peshitta, contudo, a idade dos manuscritos e alguns fatores lingüísticos levam a crer que a Peshitta tenha sido uma revisão do Siríaco Antigo. O principal indício é o de que ambas as famílias de manuscritos possuem um aramaico bem próximo do dialeto galileu do primeiro século, e com forte influência do hebraico. Contudo, em alguns trechos, a Peshitta traz palavras que se aproximam mais do aramaico siríaco. Em tais trechos, o Siríaco Antigo preserva o dialeto galileu, dando fortes indícios de que a Peshitta deriva-se do Siríaco Antigo.
A Peshitta
O manuscrito dos Ketuvim Netsarim (Novo Testamento) da Peshitta é usado amplamente nas comunidades nestoriana e jacobita do Oriente. Apesar de seus manuscritos datarem dos séculos 4 e 5, é possível comprovar que a Peshitta é anterior a tais datas. Uma das maiores evidências é o fato da Peshitta ser texto adotado por comunidades que foram rivais após o Concílio de Nicéia. Nenhuma das duas facções teria aceitado o manuscrito da outra. Portanto, é facilmente demonstrável que a Peshitta é anterior ao Concílio de Nicéia.
Ao contrário do que alegam os que desconhecem a Peshitta, a mesma não se trata de uma tradução dos manuscritos gregos. Seus textos são por diversas vezes deveras diferentes das conhecidas famílias do grego, e em inúmeras passagens apontam para um texto sublinear ao grego - especialmente ao Texto Recebido, o qual deriva-se diretamente da Peshitta.
Nas palavras do patriarca da Igreja do Oriente, Mar Eshai Shimun: "com referência à... originalidade do texto da Peshitta... desejamos declarar que a Igreja do Oriente recebeu as Escrituras das mãos dos próprios Apóstolos benditos no aramaico original, a língua falada pelo próprio nosso Senhor Yeshua o Messias..."
O termo "Peshitta" significa "simples", e foi dado porque a Peshitta é uma compilação simples das Escrituras nas línguas semitas. Infelizmente, como a Igreja do Oriente não considera canônicos os livros de Kefa Beit (Segunda Pedro), Yochanan Beit e Yochanan Guimel (Segunda e Terceira João), Yehudá (Judas) e Apocalipse, os mesmos, à exceção do livro de Apocalipse, não foram preservados no aramaico original.
O Manuscrito Crawford
O manuscrito Crawford é bastante raro, e pouco conhecido. A forma como tal manuscrito chegou à Europa é desconhecida. O que sabe-se é que foi comprado pelo Conde de Crawford por volta de 1860. Desde então, tornou-se posse da conhecida John Rylands Library of Manchester, na Inglaterra. O manuscrito contém um texto completo da Peshitta, bem como as epístolas extra-Peshitta vindas do Peshitto (tradução ocidental do grego para o aramaico, feita para concorrer com a Peshitta), e uma versão exclusiva de Apocalipse, que não deriva do grego. Confirmado que essa versão de Apocalipse derivava-se da família dos manuscritos semitas, foi publicada em 1897 por John Gwynn.
Por Sha'ul Bentsion
Baseado em pesquisa do Dr. James S. Trimm
usébio (325 D.C.) Historia Eclesiástica livro III. Capítulo 24. 6 diz: “Efetivamente, Mateus, primeiramente havia pregado aos hebreus, quando estava a ponto de sair para pregar aos gentios, entregou por escrito o seu Evangelho, em sua língua materna, suprindo assim por meio da escrita o que faltava para aqueles que estavam longe”.
"De fato, Mateus, dentre os hebreus em seu próprio dialeto, também produziu um evangelho..." (Contra Heresias 3:1:1)
Epifanio de Salamina (315-403 d. C.), ao referir-se ao evangelho usado pelos Ebionitas disse: “Mateus escreveu seu Evangelho na língua hebréia”.
Orígenes - século III:"... o primeiro [evangelho] ...foi escrito por um publicano, Mateus, que o publicou para aqueles do Judaísmo que haviam crido, ordenado e reunido em letras hebraicas." (Comentário de Mateus)
A referência mais importante e precoce é a de Papias de Hirrapolis (125 dC – 150 dC), um dos primeiros autores cristãos, que escreveu: “Mateus reuniu os oráculos em língua hebraica e interpretou cada um deles da melhor maneira que podia”. Isso significa que nós temos um testemunho primitivo Cristão sobre o documento que Mateus recolheu dos ditos de Jesus".
"Mas sobre Mateus, ele [Papias] diz o seguinte: Mateus, portanto no dialeto hebraico organizou os oráculos, e a cada um interpretou segundo sua capacidade." (História da Igreja 3:39:116)7
Jerônimo - século V:
"Mateus, que também é chamado Levi, o emissário ex-publicano, primeiramente compôs em letras hebraicas o evangelho do Messias na Judéia, para aqueles que vieram a crer dentre a circuncisão. Quem posteriormente o traduziu para o grego não é certo o suficiente. Além disso, este texto hebraico ainda é mantido até hoje na biblioteca de Cesaréia que Panfílio o mártir estudiosamente reuniu. Recebi uma oportunidade dos Nazarenos de copiar este volume, que é usado em Bereia, cidade da Síria. Em tal evangelho, deve-se notar que, quer o evangelista, quer por sua própria pessoa quer pelo Senhor e Salvador, faz uso dos testemunhos das escrituras antigas, ele não segue a autoridade dos setenta tradutores, mas o hebraico." (Sobre Homens Famosos 3)
"O primeiro de todos é Mateus, um publicano codenominado Levi, que publicou um evangelho na Judéia na língua hebraica, especialmente em razão daqueles que creram em Cristo dentre os judeus." (Prólogo dos Quatro Evangelhos)
"Por fim Mateus, que escreveu o evangelho na língua hebraica..." (Epístola a Damásio 20)
"No evangelho que os Nazarenos e os Ebionitas usam, que recentemente traduzimos do hebraico para o grego, e que é chamado por muitos de o autêntico de Mateus..." (Comentário sobre Mt. 12:13)
"No evangelho hebraico segundo Mateus está assim: Nosso pão para amanhã nos dá hoje, isto é, o pão que Tu nos darás no Teu Reino nos dá hoje." (Comentário do Sl. 135)
"E [os Nazarenos] têm o evangelho segundo Mateus bem completo no hebraico. Pois dentre eles ainda é claramente preservado, assim como foi escrito desde o princípio em letras hebraicas." (Panarion 29:9)
"No evangelho segundo os Hebreus, que de fato é escrito na língua Caldéia e Siríaca, mas em letras hebraicas, os quais os Nazarenos usam até hoje, segundo os emissários, ou como a maioria se refere a ele: segundo Mateus, o qual também é preservado na biblioteca de Cesaréia..." (Contra os Pelagianos 3:2)
"E [os Nazarenos] têm o evangelho segundo Mateus bem completo no hebraico. Pois dentre eles ainda é claramente preservado, assim como foi escrito desde o princípio em letras hebraicas." (Panarion 29:9)
Epifânio - século IV:
"E eles [seitas judaicas] próprios também aceitam o evangelho segundo Mateus... Mas eles o chamam 'segundo os Hebreus'." (Panarion 30:3)
"No evangelho que é chamado segundo os Hebreus, eu encontrei ao invés do pão supersubstancial, eu encontrei mahar (מהר), que significa "de amanhã", de modo que o sentido seria: Nosso pão de amanhã, isto é, o [pão] futuro dá nos hoje." (Comentário sobre Mt. 6:11)
Rabanus Maurus - século IX:
"Deve-se notar que no evangelho segundo os Hebreus que os Nazarenos e os Ebionitas usam, e que é chamado por muitos de o evangelho autêntico de Mateus..."
A Bíblia da Igreja Sírio-Ortodoxa é conhecida como Peshitta. Ela foi preservada milagrosamente da destruição até chegar ao ocidente no século XIX. É a versão padrão da Bíblia cristã no siríaco (ou aramaico), língua utilizada do Nazareno, da sua mãe e dos seus discípulos, nas igrejas de herança síria.
Enquanto a maior parte da igreja primitiva (ocidental) optou pela Septuaginta Grega, ou traduções, a partir dela, do Antigo Testamento, as igrejas siríacas tiveram seu texto traduzido diretamente do hebraico por volta do segundo século. Já o Novo Testamento da Peshitta tinha-se tornado o padrão até o início do quinto século, substituindo as duas primeiras versões Siríacas dos Evangelhos.
Os exemplares da Bíblia, com exceção dos pergaminhos do Mar Morto, são o Codex Vaticanus, conservado na Biblioteca do Vaticano e do Codex Sinaiticus ,no Museu Britânico. Mas a Igreja Anglicana obteve no século XIX, as cópias da Bíblia aramaica de Kerala, que se supõe ter sido tão antigas quanto às cópias preservadas no Vaticano e em Londres. Estes tesouros nacionais indianos estão agora na Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
A Bíblia foi escrita originalmente em aramaico, hebraico e grego. No início do quinto século D.C., Jerônimo a traduziu totalmente para o latim. Embora esta versão da Bíblia, conhecida como Bíblia Vulgata, seja a principal versão majoritária utilizada pela Igreja Católica Romana (ICAR), existe outra versão guardada por um ramo do Cristianismo que tinha se estabelecido em Antioquia, na Síria. Sua versão da Bíblia supõe-se ter sido levada a Malabar, na Índia, com o Cristianismo no primeiro século D.C. Para este lugar, conforme a tradição, dirigiu-se Mar Thoma (São Tomé), um dos doze apóstolos de Cristo. [...]
A comunidade cristã indiana em Malabar utilizou-se, desde o início, a versão da bíblia siríaca. Contudo, com a chegada de portugueses católicos romanos, em 1498, à Índia, apesar de ficarem felizes por encontrar uma comunidade cristã nativa em Malabar, se propuseram eliminar a influência do Patriarca de Antioquia da Igreja Indiana e pretendiam que os cristãos indianos transferissem sua aliança para o Papa, em Roma. Isto provocou conflitos frequentes entre os portugueses e a comunidade cristã indiana em Malabar, ao ponto de, em 1599, intentarem a destruição da "Bíblia siríaco-aramaica".
O clero siríaco não tinha suspeitado das más intenções dos portugueses, além de não conseguir salvar algum dos livros teológicos. Mas, providencialmente, o comunicado do Arcebispo Português Menezes de Goa de trazer volumes teológicos a Uday-Amperor, não havia chegado a uma das igrejas remotas da montanha do centro de Malabar. Por isso, uma cópia da versão siríaca da Bíblia escapou da destruição! Mais tarde, esta cópia passou a ser o mais preciso volume da Igreja Síria na Índia e um véu de segredo rodeou esta Bíblia, que estava "perdida". Seu paradeiro é pouco conhecido nos escalões superiores da Igreja Síria Ortodoxa. [...]
Para a Índia, é uma questão de grande orgulho que este país - cujas principais religiões incluem o Hinduísmo, o Islamismo, o Cristianismo, o Budismo, Jainismo e o Sikhismo, e o último refúgio do Zoroastrianismo e da fé judaica na Ásia -, tenha sido também o país onde tais cópias raras da Bíblia foram conservadas com êxito ao longo de séculos, até mesmo antes da Europa aceitar o Cristianismo.
Enquanto a maior parte da igreja primitiva (ocidental) optou pela Septuaginta Grega, ou traduções, a partir dela, do Antigo Testamento, as igrejas siríacas tiveram seu texto traduzido diretamente do hebraico por volta do segundo século. Já o Novo Testamento da Peshitta tinha-se tornado o padrão até o início do quinto século, substituindo as duas primeiras versões Siríacas dos Evangelhos.
Os exemplares da Bíblia, com exceção dos pergaminhos do Mar Morto, são o Codex Vaticanus, conservado na Biblioteca do Vaticano e do Codex Sinaiticus ,no Museu Britânico. Mas a Igreja Anglicana obteve no século XIX, as cópias da Bíblia aramaica de Kerala, que se supõe ter sido tão antigas quanto às cópias preservadas no Vaticano e em Londres. Estes tesouros nacionais indianos estão agora na Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
A Bíblia foi escrita originalmente em aramaico, hebraico e grego. No início do quinto século D.C., Jerônimo a traduziu totalmente para o latim. Embora esta versão da Bíblia, conhecida como Bíblia Vulgata, seja a principal versão majoritária utilizada pela Igreja Católica Romana (ICAR), existe outra versão guardada por um ramo do Cristianismo que tinha se estabelecido em Antioquia, na Síria. Sua versão da Bíblia supõe-se ter sido levada a Malabar, na Índia, com o Cristianismo no primeiro século D.C. Para este lugar, conforme a tradição, dirigiu-se Mar Thoma (São Tomé), um dos doze apóstolos de Cristo. [...]
A comunidade cristã indiana em Malabar utilizou-se, desde o início, a versão da bíblia siríaca. Contudo, com a chegada de portugueses católicos romanos, em 1498, à Índia, apesar de ficarem felizes por encontrar uma comunidade cristã nativa em Malabar, se propuseram eliminar a influência do Patriarca de Antioquia da Igreja Indiana e pretendiam que os cristãos indianos transferissem sua aliança para o Papa, em Roma. Isto provocou conflitos frequentes entre os portugueses e a comunidade cristã indiana em Malabar, ao ponto de, em 1599, intentarem a destruição da "Bíblia siríaco-aramaica".
O clero siríaco não tinha suspeitado das más intenções dos portugueses, além de não conseguir salvar algum dos livros teológicos. Mas, providencialmente, o comunicado do Arcebispo Português Menezes de Goa de trazer volumes teológicos a Uday-Amperor, não havia chegado a uma das igrejas remotas da montanha do centro de Malabar. Por isso, uma cópia da versão siríaca da Bíblia escapou da destruição! Mais tarde, esta cópia passou a ser o mais preciso volume da Igreja Síria na Índia e um véu de segredo rodeou esta Bíblia, que estava "perdida". Seu paradeiro é pouco conhecido nos escalões superiores da Igreja Síria Ortodoxa. [...]
Para a Índia, é uma questão de grande orgulho que este país - cujas principais religiões incluem o Hinduísmo, o Islamismo, o Cristianismo, o Budismo, Jainismo e o Sikhismo, e o último refúgio do Zoroastrianismo e da fé judaica na Ásia -, tenha sido também o país onde tais cópias raras da Bíblia foram conservadas com êxito ao longo de séculos, até mesmo antes da Europa aceitar o Cristianismo.
O Manuscrito DuTillet
A versão hebraica DuTillet de Matitiyahu vem do manuscrito que foi confiscado dos judeus por parte da Igreja Católica, em Roma, no ano de 1553. Em 12 de Agosto de 1553, o papa Julius III assinou um decreto banindo o Talmud de Roma. Tal decreto foi executado justamente num Rosh HaShaná, em 9 de Setembro, e qualquer coisa que se parecesse com o Talmud ou fosse escrita em caracteres hebraicos foi confiscada dos lares e sinagogas judaicas. Na ocasião, o bispo francês Jean DuTillet estava visitando Roma. Ele ficou espantado ao ver um manuscrtio de Matitiyahu em meio aos demais manuscritos hebraicos. Possivelmente, tal manuscrito pertencera a uma família de judeus nazarenos que haviam ainda permanecido apesar das perseguições. DuTillet obteve o manuscrito e retornou à França, doando-o para a Bibliotheque Nationale de Paris, onde permanece até hoje como ms. hebraico 132.
Apesar de ignorado pela grande maioria da cristandade, muitos teólogos que avaliaram o manuscrito chegaram à conclusão de que o texto é anterior ao grego. Schonfield, por exemplo, escreve:
"... certas provas linguísticas... parecem apontar que o texto hebraico [DuTillet] é anterior ao grego, e que certas renderizações do grego podem ser devido a leituras equivocadas do original hebraico." (An Old Hebrew Text of St. Matthew's Gospel; 1927, p.17)
O Manuscrito Munster
O manuscrito Munster foi publicado por Sebastian Munster, um professor suíço de hebraico e aramaico, em 1537 (e republicado em 1557). A história de sua publicação é curiosa. Em seus livros acerca do hebraico, Munster frequentemente dava exemplos vindos de um manuscrito hebraico de Matitiyahu que ele havia recebido de judeus nazarenos. Após diversas solicitações de seus alunos, Sebastian Munster então publicou o seu manuscrito.
Em sua carta ao rei Henrique VIII, Munster afirma que o manuscrito que havia recebido não estava em estado perfeito de conservação, e possuía diversas lacunas no texto. Tais lacunas foram preenchidas pelo próprio Munster.
Contudo, em 1551, Johannes Quin-Quarboreus de Aurila, professor de hebraico e aramaico na College de France, e colega de Sebastian Munster, publicou uma versão do manuscrito Munster na qual indicava e comentava o preenchimento das lacunas feito por Munster. De possa das anotações de Munster, e também tendo como fonte outros manuscritos hebraicos ao qual teve acesso, Quin-Quarboreus fez revisões ao manuscrito, corrigindo alguns dos preenchimentos feitos por Munster.
Quin-Quarboreus afirma, no prefácio de sua edição do manuscrito, que o manuscrito de Munster e os demais manuscritos ao qual ele próprio teve acesso estavam em concordância com o manuscrito original em hebraico de Matitiyahu.
O Siríaco Antigo
Um fato relativamente desconhecido para o Cristianismo é a existência de dois manuscritos antigos em aramaico dos 4 livros das Boas Novas, datando do século 4. O primeiro foi descoberto pelo Dr. William Cureton em 1842, num monastério no Vale dos Lagos de Naton, no Egito.
Este manuscrito é conhecido como Codex Syrus Curetonianus, ou o Cureton, e se encontra no British Museum sob o número de 14451. O segundo foi descoberto pela Sra. Agnes Smith Lewis, em 1892, no monastério de Santa Catarina, próximo ao Monte Sinai, no Egito. O manuscrito é conhecido como Codex Syrus Sinaiticus, ou Siríaco Sinaitico, catalogado como Ms. Siríaco Sinaitico No. 30. Segundo Cureton, tais manuscritos seriam baseados no texto original dos apóstolos.
O Siríaco Antigo assemelha-se muito à Peshitta, contudo, a idade dos manuscritos e alguns fatores linguísticos levam a crer que a Peshitta tenha sido uma revisão do Siríaco Antigo. O principal indício é o de que ambas as famílias de manuscritos possuem um aramaico bem próximo do dialeto galileu do primeiro século, e com forte influência do hebraico.
Contudo, em alguns trechos, a Peshitta traz palavras que se aproximam mais do aramaico siríaco. Em tais trechos, o Siríaco Antigo preserva o dialeto galileu, dando fortes indícios de que a Peshitta deriva-se do Siríaco Antigo.
A Peshitta
O manuscrito dos Ketuvim Netsarim (Novo Testamento) da Peshitta é usado amplamente nas comunidades nestoriana e jacobita do Oriente. Apesar de seus manuscritos datarem dos séculos 4° e 5°, é possível comprovar que a Peshitta é anterior a tais datas. Uma das maiores evidências é o fato da Peshitta ser texto adotado por comunidades que foram rivais após o Concílio de Nicéia. Nenhuma das duas facções teria aceitado o manuscrito da outra. Portanto, é facilmente demonstrável que a Peshitta é anterior ao Concílio de Nicéia. Ao contrário do que alegam os que desconhecem a Peshitta, a mesma não se trata de uma tradução dos manuscritos gregos. Seus textos são por diversas vezes deveras diferentes das conhecidas famílias do grego, e em inúmeras passagens apontam para um texto sublinear ao grego - especialmente ao Texto Recebido, o qual deriva-se diretamente da Peshitta.
Nas palavras do patriarca da Igreja do Oriente, Mar Eshai Shimun:
"com referência à... originalidade do texto da Peshitta... desejamos declarar que a Igreja do Oriente recebeu as Escrituras das mãos dos próprios Apóstolos benditos no aramaico original, a língua falada pelo próprio nosso Senhor Yahushua o Messias..."
O termo "Peshitta" significa "simples", e foi dado porque a Peshitta é uma compilação simples das Escrituras nas línguas semitas.
O Judaikon
Fato pouco conhecido é o de que existem quase quarenta manuscritos de Matitiyahu no grego que trazem notas marginais sobre o texto original hebraico. A versão original é chamada de “Judaikon”, isto é, o “texto dos judeus”.
Cerca de treze notas marginais nos apontam para o texto hebraico. Em alguns casos, tais notas são confirmadas por Jerônimo, ou encontram eco também nos manuscritos hebraicos. Os trechos onde as notas sobre o “Judaikon” foram utilizadas se encontram devidamente referenciadas.
Observe Mateus 28:18-20
“E assim eles o tocaram e creram, convencidos tanto por Sua carne quanto por Seu espírito. E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: “Assim como meu Pai me enviou eu também vos envio. Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto ide, fazei talmidim em todas as nações em Meu Nome; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.”
28:19 – Todas as citações de Eusébio trazem o texto dessa forma, omitindo qualquer menção a imersão trinitária. Shem Tob também omite a fórmula trinitária – o que também é um fato muito relevante, considerando-se que Shem Tob foi achado em meio a uma obra anti-missionária, e o batismo trinitário seria um forte argumento contrário à fé.
Confira abaixo o texto de Mateus 28:19 da tradução do Evangelho Hebraico de Mateus, publicada em 1995, pelo erudito George Howard:
Mateus 28:18-20 em Hebraico:
Mateus 28:18-20 em inglês:
Em português, a tradução aproximada seria:
יששואה ניגש אליהם, אמר להם:
כל הסמכות ניתנה לי בשמיים ובעולם.
19 לך
20 וללמד אותם לשמור על כל הדברים
כי ציוויתי עליך לנצח.
כל הסמכות ניתנה לי בשמיים ובעולם.
19 לך
20 וללמד אותם לשמור על כל הדברים
כי ציוויתי עליך לנצח.
18 Yahshuah aproximando-se deles, disse-lhes:
Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.
19 Ide
20 e ensinai-os a observar todas as coisas
que vos ordenei para sempre.
Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.
19 Ide
20 e ensinai-os a observar todas as coisas
que vos ordenei para sempre.
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